O Núcleo de Estudos e Pesquisas de Economia e Feminismos (NuEFem), sediado no Instituto de Economia da UFRJ, nasceu em 2020 a partir da necessidade de varies professorxs e pesquisadorxs de construir um espaço para avançar nos estudos que contemplem a situação específica de opressão e subalternidade que as diferentes mulheres vivenciam.

Partimos da avaliação que o estudo das condições sistêmicas de exploração e opressão que sofrem mulheres e dissidências no capitalismo patriarcal extrativista, embora pouco explorado pela maior parte das linhas de pesquisa no Brasil, é de grande relevância para a teoria econômica. Por tais motivos, o NuEFem se constitui como um grupo de ensino, pesquisa e extensão que tem por objetivos essenciais estudar, debater, formar, divulgar e construir conhecimento com foco nas especificidades nas relações sociais e econômicas das mulheres, com um olhar multidisciplinar. O grupo congrega pesquisadorxs nas áreas de economia, ciências sociais, relações internacionais e história que investigam desde diferentes prismas teóricos críticos, no entanto, partindo deuma perspectiva feminista comum, focadanos países periféricos.

Tais estudos e pesquisas tornam-se fundamentais para reduzir as desigualdades de gênero que caracterizam a nossa sociedade. Incluir a perspectiva da economia feminista nos estudos da economia é essencial, não apenas para fornecer diagnósticos objetivos acerca dos problemas econômicos enfrentados pelas mulheres, mas igualmente para propor políticas públicas direcionadas ao seu combate.

 

JUSTIFICATIVA

A economia tradicional (seja na sua versão marginalista, seja na sua versão clássica ou keynesiana) parte da ideia de que trabalho é unicamente aquele que tem uma contrapartida monetária, ou seja, o trabalho remunerado. Trabalho é unicamente aquele realizado na esfera pública, que tem como objetivo a produção de bens e serviços destinados ao mercado. O trabalho reprodutivo, que inclui tanto a gestação das novas vidas quanto os cuidados, as tarefas domésticas de alimentação, limpeza, administração do lar e também a contenção psicológica, sexual e afetiva dos homens, é um trabalho realizado no interior do lar para o consumo próprio das famílias, e, portanto, como não passa pelo mercado, é considerado pela economia como improdutivo e carente de valor mercantil. Para a economia e para a sociedade, esse trabalho que é fundamental para a reprodução do sistema capitalista, é invisível e carece de prestígio e é essencialmente realizado de maneira gratuita pelas mulheres. (FEDERICI, 2019, BHATTACHARYA, 2019, MARÇAL, 2017)

No que diz respeito ao trabalho “produtivo”, as mulheres se deparam com uma série de barreiras para a inserção no mercado de trabalho em condições de igualdade, como, por exemplo: discriminações salariais, segregação ocupacional vertical, ou seja, as dificuldades relativas em subir os degraus mais altos da estrutura corporativa (o chamado “teto de cristal”), e várias outras discriminações que aparecem no âmbito laboral. A partir de uma análise interseccional, as mulheres pretas e pardas no Brasil encontram um cenário ainda pior em suas realidades no mercado de trabalho, o que leva alguns estudos a caracterizar essa barreira como sendo ainda mais espessa, um “teto de concreto” que torna praticamente impossível o acesso dessas mulheres às camadas executivas mais altas (COTTER et al, 2001). Ao mesmo tempo, as mulheres pobres e negras ingressam massivamente no mercado de trabalho em empregos secundários e menosprezados, com menores salários, baixa perspectiva de mobilidade e piores condições no que tange aos direitos trabalhistas, no contexto da chamada economia dos cuidados. A chance de crescimento e mobilidade social é praticamente nula, o que acaba fazendo com que essas mulheres fiquem presas nesse “piso pegajoso” para o resto de suas vidas (FERNANDEZ, 2019).

Esta situação vê-se agravada pelas políticas recentes de ajuste estrutural que reduzem a oferta de bens públicos e sobrecarregam ainda mais as mulheres. Em países periféricos, como o Brasil, a nova divisão internacional do trabalho estruturada pelas pautas da colonialidade gera níveis salariais ainda menores e empregos ainda mais precários. As mulheres negras, indígenas, e migrantes em países subalternizados com históricos de processos de colonização/escravidão enfrentam ainda uma estrutura econômica notadamente racista.

Por fim, parte dessa invisibilização do trabalho feminino e da especificidade das diferentes mulheres nas relações sociais e econômicas está relacionada com a baixa representação das mulheres no âmbito acadêmico. De fato, as teorias econômicas desenvolvidas por mulheres e as pesquisas econômicas que colocam a mulher como seu objeto de estudo (como a economia dos cuidados e sobre o uso do tempo; a divisão sexual do trabalho; a informalidade e vulnerabilidade das mulheres no mercado de trabalho; a necessidade de um sistema previdenciário diferenciado, entre outros) são poucas, e pouco difundidas e estudadas. A maior parte dos estudos da economia nas suas versões tradicionais, tanto da teoria clássica como na teoria neoclássica, não inclui a perspectiva de gênero e nem valoriza a produção doméstica e a troca de valores de uso, característicos da economia dos cuidados. Ou seja, não é considerada a possibilidade que, no âmbito econômico, homens e mulheres tenham um acesso diferencial, tanto no mercado de trabalho, como nos espaços de poder, e também não é considerado o volume de trabalho invisível realizado pelas mulheres no âmbito do lar.

 

FORMAS DE ATUAÇÃO

  • Cursos de graduação;
  • Cursos de extensão;
  • Projetos de pesquisa;
  • Publicação de artigos e produção científica;
  • Produção audiovisual;
  • Participação em seminários, conferências, palestras nacionais e internacionais.

NuEFem está cadastrado como grupo de pesquisa no CNPQ desde 2020  - http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/673791


Instituto de Economia da UFRJ Avenida Pasteur, 250, Palácio Universitário.