HISTÓRIA DO IE-UFRJ
O atual Instituto de Economia foi fundado em 1996 a partir da fusão do Departamento de Economia da antiga Faculdade de Economia e Administração (FEA), responsável pela graduação em Ciências Econômicas, e do Instituto de Economia Industrial (IEI), responsável pela pós-graduação e a pesquisa em economia. A fusão representou o último passo de um projeto, iniciado em 1946, de constituição de um núcleo universitário para abrigar as atividades de ensino, pesquisa e extensão em economia na UFRJ.
Foi em 1946 que ocorreu a incorporação pela então Universidade do Brasil (antiga denominação da UFRJ) da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do Rio de Janeiro (FCEARJ), criada em 1938 pela Ordem dos Economistas do Rio de Janeiro e a Sociedade Brasileira de Economia Política, que reuniu na época importantes economistas como Eugênio Gudin e Octávio Gouvêa de Bulhões. Uma vez incorporada, a FCEARJ passou a se chamar Faculdade Nacional de Ciências Econômicas (FNCE) e foi novamente rebatizada em 1965 como Faculdade de Economia e Administração (FEA). Com a FNCE, nasceu no final da década de 1940 o primeiro curso de graduação em ciências econômicas independente do Direito e integrado a uma estrutura universitária do país. Fica claro, assim, como a história do IE se confunde com a própria história do ensino de economia no Brasil.
Já o Instituto de Economia Industrial foi criado em 1979 pelo Conselho Universitário da UFRJ para desenvolver as atividades de ensino de pós-graduação e pesquisa em economia, em cooperação coma FEA. Ainda em 1970, foram implementados o curso de mestrado e a pesquisa com foco em indústria e tecnologia, revelando o reconhecimento da crescente importância da formulação das políticas industriais e tecnológicas no desenvolvimento econômico do país. Com a implementação do curso de doutorado em 1986, organizaram-se as três áreas de concentração do programa: Economia da Indústria, Planejamento e Políticas Públicas, e Economia Política. Duas décadas mais tarde, deste programa nasceriam outros dois, com foco nas áreas de concentração originais (o Programa de Políticas, Estratégias e Desenvolvimento e o Programa de Economia Política Internacional).
A fusão da FEA com o IEI em 1996 tornou o novo instituto capaz de desenvolver um programa integrado de ensino e de pesquisa em economia e permitiu a oferta de um conjunto maior e mais variado de disciplinas nos programas de graduação e pós-graduação, extraindo vantagens do que é uma das principais características da instituição: a pluralidade na formação e de perspectivas teóricas do seu corpo docente.
O compromisso do IE-UFRJ é apresentar e discutir, de forma aprofundada e crítica, os principais paradigmas que constituem a teoria econômica moderna, a visão que informa cada um deles, suas fronteiras interdisciplinares, seus instrumentos analíticos, seu poder de explicação da realidade das economias atuais e os confrontos entre suas proposições. Historicamente essa postura plural e crítica tem se revelado tanto nos programas de graduação e pós-graduação, quanto nas atividades de pesquisa, que sempre buscaram a reflexão intelectual independente a partir das mais diversas preocupações teóricas e empíricas, com particular destaque, porém, para o conhecimento da economia brasileira e da análise do impacto dos instrumentos de política econômica na realidade do país. Com isso, pretende-se preservar e fortalecer o mais caro legado dos professores da antiga FEA e do IEI: a reflexão em torno dos problemas e das opções que se abrem para o desenvolvimento do país.
Datando de 1938, o curso de graduação em Ciências Econômicas do IE-UFRJ é um dos mais antigos do país e, desde sua criação, esteve também entre os mais prestigiosos, tendo contribuído para a formação de quadros importantes desta área do saber no Brasil e no mundo, como Eugênio Gudin, Octavio Gouvêa de Bulhões, Roberto Campos, Antonio Dias Leite, Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, Aloísio Teixeira, Antônio Barros de Castro, Mário Luiz Possas, Fernando Cardim, entre outros.
O IE está sediado no campus da Praia Vermelha, bairro da Urca, próximo de um dos principais cartões postais da cidade, o Pão de Açúcar. O IE funciona nas dependências do Palácio Universitário, prédio centenário que foi palco de momentos marcantes da história do país.
HISTÓRIA DO PALÁCIO UNIVERSITÁRIO
O HOSPÍCIO PEDRO II
O IE funciona nas dependências do Palácio Universitário, antigo Hospício de Pedro II, prédio da década de 1840 considerado uma obra-prima do estilo neoclássico no Brasil. O projeto foi concebido por um trio dos mais representativos arquitetos do período oitocentista brasileiro: Domingos José Monteiro, Joaquim Cândido Guilhobel e José Maria Jacinto Rebelo.
O Hospício de Pedro II foi o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil, criado por força do decreto real nº 82 de julho de 1841, que marcou o início da atuação imperial da assistência psiquiátrica no Brasil. O projeto arquitetônico do hospital foi inspirado nos principais hospícios franceses da época (Maison Royale de Chareton, Hospício de Sapétrière e Hospício de Bicêtre) e no princípio do isolamento dos alienados defendido por Jean-Étienne Esquirol, importante psiquiatra francês do século XIX.
Iniciada em janeiro de 1842, a construção do prédio levou quase dez anos para ser concluída, dado o tamanho e a suntuosidade da edificação. No centro da fachada principal, o pórtico da entrada é formado por um pequeno templo de gnaisse bege semelhante a outros exemplares do estilo neoclássico na cidade. A planta é estruturada em alas simétricas organizadas em torno de pátios internos ajardinados, bastante comuns em edificações da área de saúde dessa época. Toda a edificação é cercada por um gradil de ferro fundido decorado e por peças de granito e mármore Carrara.
O Hospício Pedro II entrou em atividade em 1852 e sua gestão foi entregue à Irmandade da Misericórdia, também responsável pela Santa Casa. Apesar da arquitetura imponente e monumental do palácio, o empreendimento foi se mostrando ineficiente para os objetivos médicos ao longo da segunda metade do século XIX, em face dos avanços no pensamento científico, mas também em virtude do adensamento populacional no entorno do prédio e de falhas na sua gestão. Se por um lado o desenho do prédio não facilitava a observação e o estudo dos doentes, o modelo de gestão adotado pela Irmandade da Misericórdia acabou permitindo uma excessiva diversificação das atividades e a superlotação das instalações, levando o empreendimento a se afastar de seu objetivo hospitalar precípuo, que era a cura dos alienados, e a tornar suas condições insalubres para os doentes.
Nas primeiras décadas do século XX o hospital estava superlotado e decadente. O funcionamento foi até 1944, quando os pacientes foram transferidos para a Colônia Juliano Moreira e o Hospital do Engenho de Dentro. Em setembro de 1944 concluiu-se a transferência de todos os pacientes e o hospital foi desativado.
O PALÁCIO UNIVERSITÁRIO DA UFRJ
Com a desativação do hospital, o prédio ficou vazio de 1944 a 1948 e, sem manutenção nas instalações, quase chegou a ser demolido. Durante o governo militar de Eurico Gaspar Dutra, o prédio foi cedido ao Ministério da Educação e da Saúde para instalação da Universidade do Brasil - antiga Universidade do Rio de Janeiro, reformada durante o Estado Novo por meio da incorporação de diversas unidades e institutos já existentes nas áreas de Química, Filosofia, Ciências e Letras, Metalurgia e Música (somente na década de 1960 a instituição viria a ser rebatizada de Universidade Federal do Rio de Janeiro). Nascia assim o campus da Praia Vermelha, e o antigo Hospício Pedro II era rebatizado de Palácio Universitário.
Dentre as alas do Palácio destaca-se o Teatro de Arena Carvalho Netto, nomeado em homenagem ao escultor português José Isidoro d’Oliveira Carvalho Netto. Mas aquele que, na época em que o palácio era um hospício, servia para vigiar os doentes, tornou-se um palco de importantes manifestações culturais e políticas.
Em 1949 iniciaram-se as obras de restauração e o Palácio Universitário recebeu a Reitoria da UFRJ. No ano seguinte, na ala direita instalou-se a Escola Nacional de Educação Física, e nos dois anos seguintes, após recuperação das instalações, a ala esquerda recebeu as Escolas de Arquitetura e de Farmácia. Em, 1953 o reitor Pedro Calmon iniciou o processo de requisição do tombamento da edificação. Enquanto isso, iniciava-se o processo de desenho e construção do campus da Ilha do Fundão, que só veio a ser oficialmente inaugurado na década de 1970.
No final da década de 1950, o Teatro de Arena abrigou o lançamento do mais importante movimento de música cosmopolita do Brasil, a Bossa Nova. Foi ali que o disco de João Gilberto “Chega de Saudade”, marco da Bossa Nova, foi oficialmente lançado em um concerto que contou com a participação de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Nara Leão, os quais viriam a fazer outro show no local no ano seguinte.
Nas décadas de 1960 e 1970, durante o regime militar, o Palácio Universitário e, especialmente, o Teatro de Arena, foram palco e ponto de partida para assembléias, manifestações e protestos de cunho democrático, contra a ditadura militar, feitos por estudantes e professores.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, à medida que as obras da Cidade Universitária na Ilha do Fundão foram sendo concluídas e inauguradas, as escolas e faculdades foram se mudando da Praia Vermelha para o novo campus e os ocupantes do Palácio Universitário foram também se modificando. A FEA passou a ocupar a ala direita do Palácio em 1962. Desde sua criação no final de 1979, o IEI sempre funcionou na Praia Vermelha.
Atualmente, o Palácio Universitário abriga, além do Instituto de Economia, a Biblioteca Pedro Calmon, a Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, a Faculdade de Educação, a Faculdade de Pedagogia, a Escola de Comunicação, a decania do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas e o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
PARA SABER MAIS:
FÁVERO, M. de L. “A Universidade Federal do Rio de Janeiro: origens e construção (1920 a 1965)”. In: OLIVEIRA, A. J. B. (Org.). A Universidade e os múltiplos olhares de si mesma. Rio de Janeiro: UFRJ / FCC / SiBI, 2007, p. 13-42.
MEDEIROS, J. M. O Instituto de Economia/UFRJ: memória e representação nos discursos e narrativas dos seus professores - 1979-1996. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Memória Social) - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Humanas e Sociais, Rio de Janeiro, 2005.
MONTEIRO, F. de A. O patrimônio arquitetônico da saúde: discussões sobre a história da arquitetura hospitala do século XIX. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Artes, Vitória, 2014.
UFRJ. 85 anos de UFRJ. Boletim UFRJ, 05/09/2005. Disponível em: https://ufrj.br/noticia/2015/10/22/85-anos-de-ufrj. Acesso em 25 nov. 2016.